Cada vez que uso estas palavras há sempre alguém que, ou não sabe do que estou a falar, ou acha que isso é coisa de pais modernos com a mania que só dão beijos e abraços e não sabem dizer um não.

Eu respeito que pensem de forma diferente da minha e gosto de ouvir outras opiniões para poder discutir outros pontos de vista. Se há coisa que me aflige são fundamentalismos, frases que começam por “nunca” ou “sempre”. Penso que tudo tem o seu peso e medida. Posso querer que o meu filho siga uma alimentação mais saudável, tal como eu e o pai seguimos, mas não quer dizer que ele nunca tenha comido pizza. Posso querer que o meu filho brinque mais em vez de ver tanta TV, mas não quer dizer que ele nunca veja. Posso querer que o meu filho passe mais tempo ao ar livre a correr e a mexer em terra, mas isso não implica que não passe uma tarde no centro comercial.

Durante muito tempo achei que nisto de educar também seria assim. Podia seguir um bocadinho de disciplina positiva, mas não ser extremista. Ainda acho que não sou extremista em nada, mas a verdade é que não podemos andar por aí a seguir só um bocadinho do que nos interessa. Ora eu sigo DP, mas dou umas palmadinhas quando é preciso, eu sigo DP, mas mando uns berros quando tem que ser, eu sigo DP, mas sou autoritário, ou permissivo. Não, isso não resulta!

O mal muitas vezes é dizer estas palavras. Educação positiva, ou consciente, ou o que quiserem. As pessoas passam logo a rotular-nos como alguém que “tem a mania”, ninguém gosta. Portanto, façam e não precisam dizer. Juntei uma série de frases que mais se ouvem quando alguém descobre que vocês usaram as palavras Disciplina Positiva.

“Aquela tem a mania, parece uma seita”

Eu cometi o erro de não me informar o suficiente antes de criticar algumas pessoas. Fui a primeira a dizer essas mesmas palavras . Mas isto é falar antes de estarmos informados sobre as coisas, antes de conhecermos o que é realmente isto da DP. Por isso, poderão ser contra ou a favor, mas convém saberem do que estamos a falar. Se há coisa que eu nunca aceito é que me digam que disciplina positiva é não saber dizer não, é deixar fazer tudo, é ser aquelas mães que numa loja enquanto o filho atira ao chão tudo o que está nas prateleiras dizem algo tipo “filhinho lindinho, não deite a loja abaixo, por favor meu amorzinho” e vira a cara para o lado para continuar a conversa com a amiga. Isto não tem nada de DP, zero!

Outro argumento que me enerva é dizerem “credo, agora há regras para tudo, no meu tempo educava-se e pronto, agora é preciso ler livros e seguir dicas, é por isso que isto está como está”

Seguindo esta linha de pensamento, não precisávamos aprender nada nesta vida. Para que serve a informação se nós não a usamos? Para que servem as dicas se nós nos achamos os melhores do mundo? Devemos sim adaptar o que lemos à nossa família e ao nosso contexto, mas daí a não ser útil estarmos mais informados, é como dizer que um médico também não precisa de se informar de novos tratamentos para uma doença, se antigamente também não faziam nada e vivia-se! Educar é difícil, mas pode ser ainda mais se não nos munirmos de ferramentas para podermos lidar com a situação. Se podemos ter ao nosso alcance dicas preciosas para sabermos o que responder, como falar, como ajudar a que o nosso filho se sinta compreendido, amado e respeitado e, logo, com muito mais vontade de colaborar e de nos ajudar nesta tarefa, porque não o fazemos?

“O teu filho fez asneiras? Bem feita!!! Pimbas!!! Para não teres a mania!”

Esta é um clássico! Se alguém souber que vocês escolhem educar sem bater, sem gritar, que escolhem criar os vossos filhos com apego, se vos virem a falar com eles desde cedo, a ouvi-los mesmo quando não falam, se vos virem a tentar novas formas de abordar sem ser castigar, então acreditem que muita gente vai estar à espera da primeira falha! O dia que o vosso filho cometer um erro, bater em alguém, responder mal ou fizer uma birra, terão várias dessas pessoas atentas na primeira fila para poderem dizer “afinal ele não é assim tão educado, não resulta!”. Não há muito a dizer sobre isto, é o que é. Já ouvi comentários, já vi olhares. Não podem fazer nada a não ser continuarem o vosso caminho, seguirem os passos que sabem que resultam, um dia, se tudo correr bem, as diferenças serão evidentes, e mesmo que não sejam, vão sempre saber que fizeram tudo para criar uma base sólida de relação com o vosso filho, fizeram tudo para o educar com amor, respeitando-o por inteiro como pessoa. Se tudo falhar, saberão que deram o vosso melhor para que ele se lembre sempre o quanto foi apoiado ao longo da vida, o quanto vocês lhe mostraram através do exemplo, em vez de castigos, vão lembrar os abraços em vez da palmada. Por isso, para mim compensará sempre.

Fora estes argumentos ou entraves que vos falei, há um outro aspecto que me irrita muito quando falamos sobre estas questões! Muita gente procura ajuda nesta área e ainda bem! Não faltam grupos de apoio nas redes sociais ou mesmo fóruns abertos sobre o tema. Há quem se interesse verdadeiramente e procure ler sobre o assunto antes de questionar, há quem queira muito mudar e se esforce e procure ajuda e conselhos. Mas depois há aquelas pessoas que parece que de um dia para o outro se lembram de perguntar as coisas mais incríveis. Mas isto é tema do próximo artigo, por isso, fiquem atentos!