Sou apenas uma mãe. Mas na verdade sou duas mães. Sou a mãe do Gui e sou a mãe da Laura. Não posso dizer que sou a mesma mãe para os dois, porque isso não seria verdade. Não sei se alguma vez nos tornamos numa só mãe exactamente igual para todos os filhas. Eu nasci como mãe quando soube que o Gui vinha a caminho, bem devagarinho, a passos pequenos. No dia em que lhe peguei pela primeira vez, estava ainda longe de ser a mãe dele, a mãe que sou hoje. Foi com ele que aprendi a ser mãe, foi ele que me guiou, eu deixei-me cegar para o poder seguir apenas a ele. Por vezes, ainda me deixei influenciar por vozes exteriores, ainda questionei, ainda duvidei de mim, do meu instinto, do meu filho, mas quando estava disposta a ouvi-lo, a ver através dele, tudo corria bem. Pouco a pouco, passo a passo, fui sendo mãe, fui descobrindo a mãe que eu queria ser, a mãe que o Gui precisava, a mãe dele em particular. Os nossos filhos bebés não escondem quem são, não nos manipulam, não sabem o que é fingir, ou o que significa ter culpa, não fazem coisas só para os outros verem, não duvidam de si, não desconfiam da mãe. O bebé  é o mais puro que alguma vez somos na nossa existência. O bebé ama a mãe cegamente, faça ela o que fizer. O bebé confia como nunca mais saberemos confiar. Nunca nos mente ou engana, nunca nos deixa, nunca nos troca, nunca sente raiva, nunca se farta, nunca está cansado de nós. O bebé segue um instinto, o mais forte de todos, que lhe diz para estar junto da mãe, que lhe diz que ela é a única em quem ele pode confiar cegamente, e ele faz isso sem duvidar. Isto é uma enorme responsabilidade. Foi isso que o Gui me foi ensinando, eu achava que não estava preparada para ser mãe, e não estava. Não estava pronta para ser uma mãe qualquer. Eu achava que bastava preparar um quarto maravilhoso, encher gavetas de roupas cheirosas, achava que era ter o melhor carrinho, os brinquedos mais bonitos, achava que ia ser uma mãe como lia nos livros, como via nos filmes. Mas o Gui mostrou-me que não. Ensinou-me a ter confiança em mim, a ter coragem para dizer não a quem se intrometesse, ensinou-me que o colo nunca é demais, que o mimo é inesgotável, que a atenção é tudo o que ele precisa. Ensinou-me a amar verdadeiramente, colocando de lado tudo o que sei, tudo o que me ensinaram. Com o tempo a passar, descobri a mãe dentro de mim.

Sabia que quando fosse mãe novamente, já não precisaria daqueles meses iniciais para ser esta mãe. Já não teria medo de dar colo sem fim, já não teria receio de o habituar mal em tantas coisas que as pessoas insistem em repetir, já não teria medo de recusar que lhe peguem, já não duvidaria que é junto a mim que ele se sente melhor. A Laura não teve um quarto só dela pronto, nem metade das coisas sem interesse que o irmão teve, mas beneficiou de uma mãe que perdeu medos e adora amamentar, que se redescobriu, que passa dias no sofá com ela ao colo, que dorme com ela, que lhe pega sem fim, que sabe que amor é isto.

Mas foi com o Gui que tudo começou. Foi ele que me mostrou este caminho. Ainda sou duas mães. Sou a mãe do Gui, que o conhece como ninguém, que sabe o que ele gosta, o que ele precisa, o que ele sente, o que ele pensa. Sou a mãe que se senta a brincar todos os dias. Que se interessa por tudo o que ele diz. Sou a mãe que sabe que ele não dorme, que ele é atento a tudo, que nunca se esquece de nada. A mãe que não se consegue separar dele nunca, a mãe em que ele pode confiar sempre. Sou a mãe que o conhece há quase 3 anos. E sou a mãe da Laura, que só conheço há quase 3 meses. Sou a mãe que lhe dá todo o colo, que a aconchega, que a cheira sem fim, que a amamenta sem medos durante o tempo que ela precisa, sou a mãe mais calma, mais confiante. Talvez ela sinta isso e seja tão serena. Talvez seja só ela assim. Talvez ela tenha ainda tanto para me ensinar e que me faça novamente mudar o rumo.

Por isso, não tenho medo de ser duas mães. Sou a mãe que olha para eles de forma individual e que sabe que eles podem não precisar das mesmas coisas, que não são cópias, que são seres únicos, com as suas necessidades, e que precisam de uma mãe única também.
Posso ser a mãe dos dois. Mas também sou a mãe de cada um deles apenas. Quero estar sempre atenta ao que cada um precisa, quero saber ouvi-los, percebê-los, calar os ruídos exteriores, silenciar as convicções que tenho, para os poder escutar de verdade. Saber que o que é bom para um deles, pode não ser para o outro. Só quando o fazemos conseguimos ser a mãe que eles precisam. A mãe única de cada um.

A mãe do Gui. A mãe da Laura.