Depois de completarem o primeiro ano, e especialmente quando atingem os dois anos, as crianças passam por enormes mudanças, físicas, mentais, comportamentais e emocionais. A vida deles é uma montanha-russa (ok, a nossa também). Todos os dias se levantam novos obstáculos. De repente, aquele menino que comia tudo, dormia como um anjo e quase não gritava já não quer comer a sopa, diz que não a tudo, atira-nos com objectos e desata num choro profundo pelo motivo mais insignificante.

É natural que isto mexa com a dinâmica familiar. É natural que a paciência por vezes nos escape e as coisas se descontrolem. É natural sentirmos que falhámos ali em qualquer coisa, por vezes o desespero apodera-se de nós e deixamos de saber como agir. É aqui que geralmente se iniciam as discussões, o gritos, as palmadas. É aqui que começamos a dizer que não sabemos o que se passa com eles, que não obedecem, que parece que não ouvem, que não querem saber quando dizemos não, que não nos respeitam. É aqui que surgem as bocas vindas do lado que nos dizem “tens que o meter  na linha, ele já tem 2 anos, já percebe, tens que o educar, comigo não era assim”. É aqui que de repente nos sentimos diminuir quando o nosso filho desata aos gritos no hipermercado e nos manda uma chapada se tentamos impedi-lo de pegar no que ele queria. Pode ser frustrante ver a quantidade de disparates que ele consegue fazer mal viramos costas. Pode ser desafiante tentar levar um bebé de 2 anos a colaborar, a vestir-se ou comer sentado.

Ajuda sabermos o que esperar. Ajuda sabermos que é tudo normal! Que é expectável.

Infelizmente, a maioria dos pediatras, do que lemos, das pessoas à volta, não nos diz o essencial. Não nos diz o que esperar. Se soubéssemos que faz parte, era mais fácil aceitar. Não nos sentiríamos desafiados quando ele nos diz não, quando nos ignora enquanto o chamamos, quando desobedece, quando acorda de noite mais vezes que o normal, quando chora aparentemente sem motivo. Ajudava saber que isto é normal, que é sinal que o nosso filho se desenvolve normalmente e passa por etapas. Cabe-nos ajudá-los a ultrapassar da melhor forma. Cabe-nos construir bases seguras. Até aos 3 anos tudo o que eles precisam é de saber que o amor que sentimos é incondicional (sim, eles não sabem). Precisam explorar, conhecer limites, conhecer o mundo, aprender a linguagem para se poderem expressar, poderem descobrir quem são. Não ajuda estarmos sempre a impor-lhes algo que eles ainda não são mentalmente capazes de entender.

Não ajuda obrigar a dizer “desculpa”. Não aprendem porque levam uma palmada. Não aprendem quando os obrigamos a partilhar. Não aprendem quando gritamos e dizemos que estamos fartos. Não aprendem porque não é suposto conseguirem. Tal como não podemos pedir a um bebé de 2 meses que aprenda a caminhar, por muito que insistamos, ele não consegue.

Ajuda saber. Ajuda saber isto.

O que esperar do teu filho entre o 1 e os 3 anos?

Vai tornar-se mais interactivo!

Não sabe o significado de “intenção”, não pensa nas coisas, no porquê dos seus actos. Por exemplo, quando morde, não é para magoar…quando retira um brinquedo da mão de outro miúdo, não é para o irritar.

É muito curioso e é isso que o move. Logo, é provável que atire tudo ao chão só para poder ver o que acontece! Tenta respirar fundo quando ele virar constantemente o copo da água no prato.

Ainda não tem a capacidade de partilhar. O cérebro dele ainda não o permite. O desenvolvimento dele ainda não o permite. Não lhe peças para emprestar…dá o exemplo, ele quando for capaz, irá fazê-lo.

Pode parecer um pequenos rufia egoísta e mandão. Não esquecer: tudo o que eles estão interessados, tudo o que querem, vêem ou pensam…é ainda interpretado como uma extensão deles mesmos. Logo, claro que não pode entender que alguém queira aquilo que ele interpreta como sendo dele.

Começa a perceber cada vez melhor o significado de posse, tudo é dele.

Palavras preferidas: Meu (minha) e Não

Palavras que menos gosta de ouvir: Meu (minha) e Não

Acorda MUITAS vezes ao longo da noite

No fim desta fase, tende a ser cada vez mais desafiador, uma vez que estará a testar o seu sentido de independência. É natural que fique frustrado facilmente devido à sua fraca capacidade de verbalizar o que quer e sente.

As birras serão normais e frequentes. É uma fase de grandes emoções (frustração, raiva, tristeza e vergonha) e ainda não sabe expressar em palavras o que sente.

Brinca ao lado de outras crianças, não com outras crianças.

Como podes ajudar

Mil vezes direccionar! Desviar a atenção, nesta fase ainda é possível distraí-lo uma vez que o período de foco de atenção ainda é curto.

Sempre que damos uma nova regra ou ordem é muito provável que ele esqueça a anterior. Por vezes o foco reduzido de atenção é uma vantagem para nós, por vezes não!

Valoriza quando o vês fazer a coisa correcta.

Explica os teus limites e o que não consideras correcto.

Ignora pequenas coisas. Não o sobrecarregues com informações e regras…deixa-o primeiro absorver bem o mais importante.

Começam a ter a capacidade de entender o que lhe dizemos, mas pela tua sanidade mental, coloca de lado a expectativa que ele vai ouvir e fazer exactamente o que lhe pedes.

Diz as coisas sempre mostrando afecto. Podemos corrigir e repreender sem agressividade. Eles estão a dar o seu melhor, fazendo uso das capacidades que têm e do que está ao seu alcance. Se pedires demasiado, exigires demasiado, vais acabar com um filho de 3 anos mais ansioso e inseguro.

Ajuda-os a expressar o que sentem por palavras. Dá nome aos sentimentos. “Ficas chateado quando tens que arrumar os teus brinquedos, mas querias continuar a brincar, não é?”

E coragem! Pensa em tudo o que ele tem de bom, no quanto te faz feliz e melhorou a tua vida. Vai lá fora respirar se for preciso. Investe em ti como pai. Se te sentires bem, se libertares a cabeça, é mais fácil encarar todas as fases. Todas elas terão momentos difíceis e terão os seus desafios…mas todas elas passam rápido e vamos ter saudades destes anos.

 

Referências:

 http://www.heysigmund.com/developmental-stage/