É o irmão mais velho, tem que cuidar dos irmão mais novo. É o exemplo, não pode saltar em cima do sofá, porque o mais novo vê, tenta imitar, e pode cair. O irmão mais velho não tem direito a birras, a sentar-se no chão amuado, a chorar “como um bebé”, a ser “pior que o irmão bebé”. O irmão mais velho deve ser mais responsável, estar sempre atento ao mais novo para evitar que algo lhe aconteça. Deve dizer sempre a verdade. Tem que comer sozinho porque já é crescido. Tem que emprestar os brinquedos dele, porque partilhar é bonito. Tem que ceder o brinquedo que tem na mão, quando o mais novo está a chorar, porque é mais velho e já compreende. Tem que aprender a vestir-se sozinho mais rápido, porque já não é bebé. Tem que andar menos ao colo, porque de repente ficou pesado. O mais velho tem sempre a culpa quando se ouvem gritos e choradeira, porque não tem noção que é mais forte, que magoa, que o mais novo não sabe, porque é bebé.
“Tu agora és o mais velho, tens que te portar melhor.”
E eu respondo, não tem nada! Não tem. É mais velho, mas não deixou de ser o mesmo. De ter exatamente a idade que tem. De ter os mesmos direitos. Espero dele o que eu acho que posso esperar, mas não por ser o mais velho. Peço-lhe que arrume, que coma sozinho, mas não porque a irmã come. Às vezes peço-lhe que vá olhando para irmã quando me ausento por uns minutos, mas jamais espero que ele tenha essa responsabilidade e não lhe cobro nada quando não é capaz de medir as consequências. Evito as comparações, a todo o custo. E tento lembrar-me, todos os dias, que ele tem 4 anos. E tem, independentemente de ter uma irmã de 2 anos.
Um dia destes, estava muito cansada e eles sentem, por isso, não paravam de gritar, de discutir, de chorar… e eu disse “caramba Gui, és o mais velho, não podes fazer o mesmo que ela”. E depois calei-me. E à medida que os minutos passavam enquanto a adormecia, senti-me cada vez pior. Não parava de pensar no que lhe tinha dito. Por isso, pedi desculpa. Desculpa por ser igual a toda a gente que lhe diz isto com frequência, desculpa por ser igual a quem diz todas estas frases sem pensar. Pedi desculpa e disse que sim, que ele é o mais velho e que inevitavelmente acaba por ser um exemplo para a irmã, que ela vai querer ser como ele, fazer o que ele faz, e que às vezes isso será bom, outras será irritante. Expliquei que ser o mais velho é bom, mas também é frustrante. E acima de tudo disse-lhe que ele para mim é único, e que os amo aos dois, que nunca vou preferir nenhum, que o amor é infinito por ambos. Sempre. Mesmo quando digo disparates, mesmo quando me zango com um deles.
Ele não disse nada, mas sorriu. Adormeceu bem e eu adormeci mais serena. Ter dois filhos é melhor do que eu podia imaginar, mas tem este lado também, e é importante relembrar a nós próprias que cada um deles tem a idade que tem, a sua própria personalidade e que podemos ter expectativas, podemos exigir deles, dentro do que cada um de nós sente que é razoável ou que se ajusta ao nosso modo de educar… mas sem nunca recorrer a comparações. Se formos nós a colocar isso como algo mau, como é que eles vão saber que ter um irmão é tão bom?
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