Confesso que tento fugir a estes temas polémicos, tudo porque deixou de ser possível ter conversas civilizadas nas redes sociais, onde já sabemos, tudo ganha outra dimensão, as pessoas comentam, ofendem, partilham, revoltam-se e, lá bem no fundo, não perdem 1minuto a pensar no assunto. Comentamos fervorosamente e fazemos logo scroll à procura do próximo escândalo!
Não vou debater aqui as razões para uma palmada, não vou julgar os pais, e quem nunca perdeu a cabeça e cometeu erros que atire já a primeira pedra! Eu cá falho muitas vezes como mãe, pelo menos com o tipo de mãe que eu quero ser.
Eu acho que a questão das palmadas é relativamente simples. O mundo evolui, muda, os tempos são outros. As mudanças demoram, levam o seu tempo. O que era aceitável há 100 anos atrás, não o é hoje. Se continuam a acontecer atrocidades? Claro que sim. Sabemos que a violência física é errada, é crime, mas ela existe. A questão não está aqui. Não foi assim há tantos anos atrás que era aceitável o marido bater na mulher. Fazia parte. As mulheres nem sequer podiam ir à polícia fazer queixa, por exemplo.
Se hoje ainda existem mulheres que são vítimas de violência doméstica? Claro que sim, infelizmente. Mas, felizmente, já não é aceitável dizer que o marido pode dar uma bofetada caso se justifique! Só para educar e mostrar limites. (Falo de mulheres, porque usei um exemplo que era aceitável há uns anos, mas como é óbvio, a violência existe nos dois sentidos)
Então porque é que ainda é aceitável bater numa criança? E não me venham com a palmada que não dói bla bla bla. Já sabemos que espancar não, mas uma sapatada no rabo não faz mal. O que significa bater? O que queremos ensinar aos nossos filhos? Que se errarem podem levar e é aceitável? Que perante uma falha nossa, é aceitável que alguém nos mande uma chapada? Queremos ensinar que como somos mais fortes fisicamente podemos bater? Que os mais fortes e com mais autoridade, podem bater nos mais frágeis e indefesos?
Expliquem-me, porque eu não entendo!
Também tenho filhos e às vezes desespero, a todos nos passa pela cabeça dar uma palmada para a birra ficar por ali, mas se pararmos para pensar, é esse o melhor método que temos? É esse o tipo de pai que queremos ser? Bater é a solução ou é a opção preguiçosa? Aquela que não nos obriga a usar a nossa maturidade e inteligência emocional para lidarmos com a situação? Aquela que não nos obriga a fazer um esforço para encontrar outro meio?
Não é aceitável bater em ninguém. Ninguém anda pelas redes sociais a proclamar que umas palmadinhas no marido quando ele não baixa a porcaria da tampa da sanita levantada não fazia mal nenhum! Se alguém escrever que sempre que o cão faz asneiras leva uma palmada, aposto que todos se revoltam. A sociedade mudou, e bem, e hoje não aceitamos a violência física para mudar comportamentos!
Mas bater numa criança continua a ser defendido por muitos como a melhor e mais eficaz forma de educação. Porquê? Porque é que muitos pais e educadores defendem que a única forma de controlar as crianças é usar a superioridade física e humilhar e desrespeitar? Sim, porque levar uma palmada é só bastante humilhante!!! Mesmo que não doa. Deixa marcas. Passa a mensagem errada. Pode até parecer que resultou, mas trouxe zero benefícios.
Não sou ingénua, a violência contra as crianças vai continuar. Mas sonho com o dia em que, pelo menos, deixe de ser aceitável. Deixe de ser normal ler nas redes sociais à descarada! Porque aí sim, alguma coisa terá mudado.
2018-01-15 at 12:53
Eu antes de ser mãe e mesmo nos primeiros meses que fui mãe pensava assim: “uma palmadinha na hora certa faz efeito”, aliás tinha eu 14 anos fiz o que não devia, desobedeci, pela primeira vez, a uma ordem da minha mãe, levei uma chapadona, que nunca mais me esqueço, (nunca me tinha batido!). Não me senti humilhada, não me inferiorizou (no meu caso!), mas (a mim!) serviu-me de emenda, nunca mais a desobedeci. Quando a minha filha começou a mexar em tudo (tomadas, piaçabas, água da sanita, areia do gato, e comer a comida do gato, etc…as primeiras 2/3 vezes ralhava e dava uma chapadita na mão dela, passado alguns minutos lá estava ela a fazer o mesmo…ou seja não resulta…agora, digo um “Não!” grande e fico a olhar para ela.. e esta versão resulta muito melhor…e é claro! Temos de evoluir. E penso que há formas melhores do que umas palmaditas, e resultam muito melhor.