Confesso, sempre achei que isto de ficar sempre em casa não era para mim. Não era que gostasse menos dos meus filhos, acho que todos os pais adoram estar junto dos seus filhos o máximo tempo possível, mas precisava de outras coisas para me sentir bem, precisava do meu trabalho, de estar ocupada com outros assuntos, discutir outros temas, ter algum tempo para mim, para o marido, ou para os amigos. E não há mal nenhum nisso, pelo contrário, é bastante saudável e isso reflete-se nos nossos filhos. 

Ficar em casa a tempo inteiro assustava-me. Pensei que me poderia fartar, que iria sentir falta de mais. Há 3 anos teria acontecido isso, com toda a certeza. E não fui menos feliz, nem o meu filho foi mais prejudicado. Tudo se encaixou e fez sentido daquela forma. Olhando para o Gui agora, acho que correu bastante bem, ele é incrivelmente feliz, desenrascado, sociável, destemido, divertido e parece adorar as rotinas dele. 

Com a Laura, ouvi novamente o meu coração, mas desta vez ele disse-me para ficar em casa. E eu fiquei. Estava com medo, mas afinal é tudo incrivelmente fácil quando seguimos o nosso instinto. Como podia fartar-me disto? 6 meses que passaram a voar, mal dei pelos dias. Nunca me canso de ver a Laura crescer. Ainda não estive uma hora longe dela e sinto que essa nossa hora ainda não chegou. Não sou mais apegada à Laura por isso. Nem ela é mais feliz. Simplesmente, é o que faz sentido para nós as duas neste momento. 

Estamos 24h juntas. Chamo-lhe privilégio. Dizem que tens sorte de poder estar comigo em casa. Mas sou eu, Laura. Sou eu que tenho tanta sorte. Ainda não senti pressa. Imagino muitas vezes que o mundo parou para nós.  Não sabia que podia ser tão fácil ser mãe, ser tua mãe. Não sabia que podia ser tão simples amar assim, sem horários, sem etapas, sem metas, sem imposições, sem regras. Tenho tanta sorte de poder pensar em ti, olhar-te com a calma que mereces, observar cada sorriso teu, conhecer-te ao pormenor. Tenho tanta sorte de te poder dar todo o colo que precisas, sem que para isso tenhas que chamar por mim. Tenho tanta sorte de nunca precisarem de te arrancar de mim, porque é aqui o teu lugar. Às vezes, sinto que estou a viver um sonho qualquer e tenho medo que tudo termine. É tudo demasiado bom. Demasiado perfeito. Pensava eu que me iria cansar. Mas como seria possível cansar-me de ti? Dizem-me tantas vezes que tu és tão calma, serena, uma bebé fácil. Eu olho para ti ao meu colo e sorrio. Todos os bebés são fáceis ao colo, sem medos, sem tempo contado. Já foram tantos os dias em que te deito à noite e me apercebo que te vou largar pela primeira vez no dia inteiro. E, de repente, é como se me faltasse uma parte de mim. Faltas-me tu. Não nos imagino separadas, não seria errado, não seria pior, simplesmente não imagino, não quero viver esse momento, ainda não chegou a nossa vez. Nunca poderia imaginar que me irias ensinar tantas coisas, Laura. Vieste completar-me. Desde o dia em nasci como mãe, que me sinto crescer neste papel, que tenho vindo a encontrar o meu caminho ao lado do Gui. Não sabia que ainda podias trazer mais. Mas trouxeste tanto. Ensinaste-me a ser a mãe sem relógio, a aproveitar-vos intensamente aos dois, a absorver cada segundo vosso. Talvez tudo mude, talvez em breve eu precise de algo mais para me continuar a sentir bem, e não faz mal, será só mais uma nova fase. Para já, tudo o que eu preciso são vocês. Por muito cansativo e exigente que seja, mesmo naqueles dias em que eu penso no que me fui meter, nunca fui tão feliz e nunca me foi tão fácil e natural ser mãe.