Foram estas as palavras que eu te escrevi quando tinhas 14 meses Gui.
Ter um filho muda-nos. Penso que todos sabemos isso. Muda sempre algo na nossa vida. Esta mudança não pode ser explicada a ninguém. todos somos pais diferentes. Mas eu sei que nos muda a todos.
Ser mãe mudou-me por completo. Mudou a minha vida, os meus horários, as minhas rotinas, o meu tempo, a minha casa, as minhas roupas, os meus sapatos. O espaço na nossa cama.
Mudou a minha forma de ver o mundo. De ver os outros. Mostrou-me os amigos verdadeiros. Trouxe-me novos amigos. Afastou outros. Leio menos ficção, mas leio mais sobre amor.
Ser mãe fez-me mudar a forma física. Primeiro, deixei de ir ao ginásio e isso incomodava-me. Depois, começou a incomodar-me como antes me preocupava tanto com isso.
Ser mãe trouxe medos, inseguraças. trouxe palavras que gostava de nunca ter dito. Nos primeiros tempos, foi mais duro, custava mais. Estava cansada, não entendia as mudanças. Ele fazia-me tão feliz, mas eu não me entregava por completo.
Demorei a entregar-me. Resisti a algumas mudanças. Achava que queria mais tempo. Agora, só quero mais tempo para estar ao lado dele.
Disse muitas e muitas vezes que não queria nunca estar em casa a tempo inteiro. Disse algumas vezes que queria trabalhar, viajar, ter a minha vida e, depois, ser também mãe. Antes de ser mãe disse isto. Antes de ser mãe comentei estes aspectos nas vidas de mães. Hoje sou mãe. Deixei de resistir. Hoje, só quero estar ao lado dele. As pessoas à minha volta olham-me com estranheza. Esta não sou eu, dizem. Vou perder mais amigos, fazer outros, vou ser outra.
Olho para o meu filho e não quero perder mais dele. Sou uma afortunada, porque passo tanto tempo com ele. Passo as manhãs sozinha com ele agora e não temos horário. Às vezes, olho para o relógio e sinto-me mal. Sinto-me mal por estar em casa a brincar, a olhar para ele e ter o trabalho lá à espera. Preferia não ter. Estava em casa com ele, a olhar para ele enquanto tirava as batatas todas do cesto e dizia “tata” muitas e muitas vezes. O ar dele feliz por dizer batata e por eu dizer que sim. Eu sentei-me no chão da cozinha e ele trouxe-me as batatas uma por uma. Caminhava para lá e para cá a trazer-me as batatas até despejar o cesto e quando terminou disse “ja ta” ao jeito dele e eu sorri. Depois, vi a cara dele. Estava junto ao cesto e quando me viu sorrir correu para mim, eu abri os braços e ele abraçou-me e ficou, as perninhas dele cederam e ficou ao colo. Cheirei os cabelos dele.
Nessa manhã, eu senti que era ali que eu queria estar. Tenho medo de me arrepender, de alguém me dizer “eu avisei”. Mas é o cheiro dele. O sorriso. As mãos. O medo de não me relembrar de tudo isto um dia. Às vezes, quero fotografar o momento só para um dia poder olhar para ele.
Nestas manhãs a dois, todos os dias ele faz algo novo. Algo que nunca fez antes. Todos os dias com ele trazem uma novidade e agora, sempre que o deixo na creche, fico a pensar no que estarei a perder naquelas 6h que ele ali fica. Não quero perder mais tempo.
http://happinessmore-or-less.blogspot.pt/2015/07/o-que-estou-perder.html?m=1
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