Só me falaram dos ciúmes, das discussões constantes, dos pedidos de atenção. Só me falaram da regressão de comportamentos, da pequena diferença de idades, da dificuldade que seria. Só me falaram das despesas a dobrar, da atenção repartida. Só me falaram das noites (ainda) mais difíceis, do aperto no coração quando um está doente e temos que nos dividir.
Disseram-me que iam brincar juntos.
Mas não me falaram do quanto a nossa vida ia ficar ainda melhor.
Não me falaram da cumplicidade sem igual, dos beijos na boca, das palavras doces.
Não me falaram da comida que dão à boca um ao outro. Das corridas de mãos dadas. Das risadas dos disparates um do outro.
Ninguém me disse o que se sente quando os vemos saltar juntos num colchão no chão, quando vemos o mais velho ensinar o mais novo, quando o mais novo quer ver o mundo pela mão do irmão.
Não me falaram deste amor entre irmãos. Um amor que eu vi nascer devagar, tal como a minha barriga. Ninguém me falou que o nosso coração quase pára quando eles trocam o primeiro olhar.
Ninguém me disse que os ciúmes nunca são mais importantes que a partilha. Ninguém me disse que nos enchemos de orgulho quando eles se lembram sempre um do outro.
Ninguém me disse que a vida fica mais leve, que tudo fica mais fácil.
Ninguém me falou das vezes que eles se chamam um ao outro pela casa. Das sestas que dormem abraçados. Dos disparates que partilham.
Ninguém me disse que se iam proteger e defender, que iam ser unidos desde esta idade.
O Gui é um irmão mais velho incrível, não sei se ou quando as coisas mudam. Mas até hoje, tem sido muito, mas muito melhor do que me falaram. Ele faz tudo pela irmã, não está bem sem ela, nunca se esquece dela. Quer dormir com ela, quer que ela ande sempre atrás dele, abraçam-se quando se encontram no final do dia. Também discutem pelas mesmas coisas, mas normalmente ele cede sempre.
Esta semana ele esteve doente e eu pedi-lhe para não andar tão em cima da Laura. Ele queria dar-lhe beijos. Todos os dias me perguntava se já podia dar beijos na boca. Depois eu disse que sim, como podia recusar?
Ninguém me falou disto. A vida não complica. Porquê? Porque o amor simplifica tudo.
2018-02-25 at 10:20
Concordo em absoluto.
Com duas filhas pequenas encontro muito mais vantagens do que desvantagens e muito mais amor partilhado do que trabalho. Nem o trabalho é a dobrar, nem os custos. A alegria sim, multiplica-se infinitamente.
Para além do amor que sentimos pelo segundo filho, podemos ver o amor que eles sentem um pelo outro a crescer todos os dias e isso é indescritível.
Às vezes as pessoas (curiosamente mais velhas) dizem-me que é uma prisão, muito trabalho, muitos gastos… não sinto isso. As pessoas da minha idade, algumas com três filhos, mostram-se muito mais otimistas e felizes em relação aos filhos.
Praticamente todos os dias (salvo raras exceções) o meu namorado e eu sentamo-nos a brincar com as miúdas, a dançar com elas, a cantar, a fazer construções, desenhos ou qualquer outra brincadeira os quatro juntos. É o melhor do nosso dia.
Acho que é uma questão geracional. Creio que somos os pais mais felizes de sempre. Oxalá os nossos filhos também sejam tão felizes como nós.