Um dia destes li por aí que afinal isto de ser mãe era fácil, que só se lê o quão complicado pode ser, só se falam nas dores e nos medos, no que muda na nossa vida…mas a coisa pode ser simples e mudar muito pouco. Essa mãe escreveu que a vida estava quase igual, dormia-se bem e muito com um bebé de 1 mês que até já dorme no seu quarto, passeia-se por todo o lado, muitas mãos dão o biberão e as rotinas anteriores mantém-se mais coisa menos coisa.
Eu não acho que só se leia por aí o quão duro é, muito pelo contrário. O que mais vemos são fotos de mães ideais, com barrigas de sonho passados 3 meses, fotos de mães na praia com bebés de 1 semana, fotos de casais em viagem que já puderam deixar o bebé de 3 meses com alguém. Vemos fotos de mães felizes, com cara lavada a passear. Fotos de comida saudável. Fotos de bebés a dormir felizes da vida com hashtag #amosermãe. Por trás destas fotos, muitas vezes estão mães a chorar porque as hormonas não foram ainda ao sítio. Mães com medo. Mães cansadas. Mães com fome e com banhos por tomar. Mães que estão sozinhas com o seu bebé. Mães assustadas com a maternidade. Mães que ainda choram o parto.
Nada disso está errado. O pós-parto é cada vez mais banalizado. A vida muda sim e é errado dizermos que não é assim. Se não mudasse, para que teríamos filhos? Eu não tenho qualquer problema em dizer que a nossa vida mudou radicalmente desde que soubemos que íamos ser pais. Tudo muda. Com o tempo é certo que algumas rotinas são retomadas. Não é um drama e é claro que se vêem filmes e se passeia e namora. Mas para alguns pais isso leva mais tempo do que para outros. A maioria das mães, por instinto, quereria ficar junto do seu bebé 24h por dia durante os primeiros tempos. O ruído é tanto à nossa volta que nos vamos habituando que não é assim que deve ser. Dizem às mães para se mexerem, vestirem e saírem de casa. Dizem às mães no pós-parto que não sejam “queixinhas” porque as dores não são assim tantas e que precisam começar a caminhar. Dizem às mães que devem sair e arejar, passear com o marido e oferecem-se para cuidar do bebé. Retiram do colo das mães o bebé inconsolável e a mãe assiste ao choro a cessar no colo de outro. Toda a gente quer pegar no bebé e rodeiam a mãe que amamenta à espera de vez para o colocar a arrotar. Dizem à mãe que o bebé chora de fome e contam a história de alguém cujo leite era fraco. Dizem à mãe que está de mau humor. Dizem constantemente à mãe o que deve e não deve fazer e os supostos conselhos rapidamente viram críticas! As mães de hoje em dia devem sair, trabalhar, retomar a vida de casal rapidamente, vestirem-se bem, tratarem delas. O pós-parto é inexistente na nossa sociedade actual e totalmente desrespeitado.
Eu respeito as mães que dizem sentirem-se bem, nas suas rotinas e cujo bebé dorme sozinho desde o dia 1. Respeito porque é a decisão daquela mãe.
Mas o natural é o bebé estar junto de uma mãe sempre. O máximo tempo possível. Se os bebés nascessem para estar longe, seriam independentes e não o são. São totalmente dependentes durante anos.
As mães podem e devem permanecer confortáveis, podem e devem querer estar deitadas, como se sentem melhor, podem querer passar o dia de pijama a namorar a cria. Podem sentir-se mal e com dores e essas dores devem ser reconhecidas e cuidadas. Pode não lhe apetecer fazer mais nada a não ser alimentar o filho. As mães devem poder dormir com o bebé ao seu colo, onde é o lugar dele. Se não amamenta, pode e deve ter na mesma sempre o seu filho enquanto o alimenta, porque o bebé precisa na mesma da mãe. Se tudo isto fosse mais aceite, nós, enquanto mães, também estaríamos mais confiantes a fazê-lo.
A vida muda sim, e ainda bem. Muda porque passamos a ter um filho, um ser totalmente dependente de nós, que precisa de nós 24h por dia sem interrupção. Isto não é ser fatalista nem dramático. São as mulheres as mais duras com as outras mulheres. Dizem que é antiquado dizer isto, que ser mãe não tem que ser assim, que temos direito a ser independentes e que hoje em dia já não se usa a mãe que dá a luz e fica em casa com o filho sossegada.
Cada mãe faz a sua escolha. A mãe que opta por viver o puerpério em pleno precisa de suporte, de apoio à sua volta. Precisa que a acarinhem e cuidem dela, enquanto ela cuida do bebé. Precisa de compreensão quando chora, quando desabafa, quando está cansada..porque não é fácil ser mãe, não é fácil alguém depender de nós de uma forma tão intensa. A gravidez pode ser uma preparação para esses tempos, é bom ter alguém que nos diz que é natural termos dias complicados, momentos de fraqueza, que precisamos muita força para ultrapassar os primeiros tempos. Vale tanto a pena, o nosso filho cresce demasiado rápido e precisa tanto de nós no início. Podemos aceitar que a vida muda, é duro não dormir, amamentar em livre demanda, sentir que o bebé não pode estar longe de nós, não podermos ausentar-nos, não termos tempo para mais nada.
Mas é assim mesmo, faz parte, é uma fase e vai passar.
2016-07-12 at 22:01
Engraçado pois ainda hoje escrevi o que muda na nossa vida depois de sermos mãe. Não foi um postvtao elaborado mas fico contente por saber que não sou a única. Comecei agora a mesmo meu blog. Eu, ele e a Alice. Beijo muito grande gostei muito de te ler.
2016-07-13 at 09:22
Que bom 🙂 partilha o teu blogue 🙂
beijinhos e obrigada <3
2016-07-12 at 22:24
Adorei, concordo com tudo e por favor deixem as mães escolher como querem e podem viver o momento. Parem de assustar com o parto, porque todos nós nascemos a bem ou a pior experiências. E ensinem que dar mama quase sempre dói e é difícil e complicado, que é um processo que tem que ser preparado desde a gravidez e que como o parto tem tudo para correr bem. Sou mãe de 3 e cada um uma experiência diferente.
2016-07-13 at 11:49
Presumo que tenha sido eu a visada. Mantenho o que escrevi, palavra por palavra. Nunca senti baby blues, nunca me senti triste, só chorei uma vez porque tive que ir à segurança social e fiquei com saudades do Mati (levá-lo estava absolutamente fora de questão, até porque ele tinha apenas quatro dias), só ouvi um comentário desagradável em relação à amamentação e fui directa com a pessoa que o fez (que nem sequer o fez por mal), saio com o miúdo para todo o lado no pano (raramente usamos carrinho, não acho nada prático), ele fica com os avós de vez em quando (até porque os avós são todos de longe, querem mimá-lo quando estão cá e eu amo que o mimem) e sim, passei-o para o quarto dele com um mês, tal como há quem durma com os filhos na sua cama até eles terem dois anos. E sim, tenho a casa arrumada, tomo banhinho todos os dias e faço uma alimentação saudável. Estou sozinha com ele, o meu marido ficou em casa um mês e depois disso sou só eu e o miúdo. Ser mãe (e pai) é fazer escolhas baseadas no nosso instinto, sempre focados no que é melhor para os nossos filhos. Se o melhor para o meu filho é ser também amado pelos outros, também alimentado pelos outros e dormir no quartinho dele, então é a minha escolha. Não é isso que defendemos todas – o direito à nossa escolha sem sermos criticadas?
2016-07-13 at 12:34
Joana, não sei porque dizes que és tu a visada 🙂 Mas fico muito feliz que te sintas assim e jamais o post pretende mudar o que pensas ou sentes em relação a ti, ao teu parto, à tua família e à vossa logística! Não sei onde critiquei por criticar, deixei bem claro que respeito cada opinião, eu dei a minha…eu acho que ao contrário do que dizes, fala-se sempre do bom que é e do fácil que é, quando não acho que seja quando uma mãe tem que estar 24h com o seu filho, por vezes num puerperio complicado. Ao contrário de ti, a maioria das pessoas prevê que vá ser mais fácil do que é na realidade e isso leva a frustração, à procura de livros para ensinar a dormir (recorrendo a métodos desumanos) e questiona-se mais do que necessário se o seu leite é suficiente ou não! Se a vossa realidade é essa e estão todos felizes, que bom! Não me dirigi a ti, a ninguém em particular, juntei várias coisas que li e que sinto…não apontei o dedo a ninguém, reforcei que respeito a escolha, mas tenho todo o direito em achar que um bebé precisa dormir junto à mãe, é a minha opinião, a tua e a de milhares de outras mães é outra 🙂 é essa a beleza da maternidade, cada um escolhe o que mais se adapta a si!
2016-07-13 at 13:49
Tens obviamente todo o direito a ter a tua opinião, mas sinceramente não sinto que respeites assim tanto as outras como gostas de pensar. É uma crítica construtiva e peço que a encares como tal, mas de facto lendo o teu blog não faltam considerações sobre pais que têm outras realidades, principalmente em relação à questão do sono (aliás, até neste comentário falaste de ‘métodos desumanos’). Trabalhar na saúde mental infantil ensinou-me que cada um tem a sua realidade, e que não somos ninguém para julgar a dos outros. Não gostamos mais dos nossos filhos do que os outros gostam dos deles, e cada um está a fazer aquilo que sente que é o melhor para si e para o seu filho.
Eu também tive um pós-parto complicado, com direito a um braço partido uma semana antes do Matias nascer e uma deiscência da sutura. E volto a dizer: foram as melhores semanas da minha vida, e não devia ser visto como errado ou como mentira eu sentir-me melhor do que nunca. Nem toda a gente tem ‘lágrimas escondidas por trás das fotos’. Parece que sou uma excepção, mas o meu texto pretendia precisamente mostrar que elas existem.
2016-07-13 at 14:36
Agradeço a crítica construtiva e a tua preocupação. Quanto ao meu comentário, para mim esses métodos são desumanos, serão sempre. Não faltam blogues e páginas sobre mães que consideram esses métodos o melhor para si, são livres de pensarem assim, como eu sou livre de dizer que são desumanos. Não é preciso trabalhar nessa área para saber que todos os pais (à partida) amam os seus filhos e fazem todas as escolhas optando pelo que consideram melhor. Depois, de acordo com a experiência e vivência de cada um, surge o julgamento do certo ou errado, que como sabes é ambíguo.
Em parte alguma do meu texto considero a experiência pessoal de qualquer mãe, nem a tua, nem a de nenhuma outra mãe. O texto não é sobre ninguém, é uma opinião minha sobre o pós-parto, sobre uma fase da vida, tal como tu aparentemente também pretendeste dar. Acredito realmente que nem toda a gente tem lágrimas por trás das fotos, eu falei de quem tem 🙂 se não tens, então porque haverias de responder a isso? Eu não sei nada sobre ti, sobre o teu bebé, sobre o teu pós-parto, sobre a tua vida e escolhas…quando muito, se tens um blogue, posso ficar a saber o que decides partilhar, posso partilhar o que dizes e opinar sobre isso, posso dizer o que penso daquilo que pensas, como qualquer outra pessoa ao ler um blogue público. Isto não me diz a mim como és,nem te diz a ti se eu estou a respeitar ou a questionar outras mães.
Fico muito contente por saber que nem todas as mães passam por baby blues ou choram, ou passam dias sem tomar banho 🙂 mal seria se assim fosse! Tu deparas-te mais vezes com textos sobre “pipis destruídos e mães desgrenhadas e sobre a chatice que é ser mãe” leste por aí, tal como eu li o oposto e dei uma opinião sobre isso. Porque há muitos tipos de mães e ainda bem 🙂