A sexta-feira à noite já há muito que passou a ser o dia de não cozinhar e de cairmos exaustos no sofá no final da noite. Bem sei, podia ser diferente. Ter filhos não é impedimento de tudo. Podemos ver filmes, séries, beber um gin no sofá, ou até mesmo sair e entregar as crias a alguém. Por aqui, o cenário está longe disso!
Cá por casa, fim-de-semana rima com caos. São dias de passeio, de almoços fora de casa, de risos, de momentos bons a 4, de panquecas, de escorregas e corridas, de muitas brincadeiras. Mas são também dias de acumulação de roupa por lavar, de louça na cozinha, são dias de birras e choros só porque sim, de alguns gritos e dramas. São dias de frustração.
Acabo sempre o domingo com esta sensação de que a nossa vida não podia ser mais caótica. Chego ao final do fim-de-semana completamente exausta e ainda me faltam completar umas quantas tarefas. A expectativa é sempre a mesma: descomplicar e aproveitar. A realidade, essa é outra.
Ora vejamos o resumo deste fim-de-semana. Sábado começou cedo, quando olhei para o relógio e vi um 6, soube logo que o dia ia começar mal. Às 6h50 o Gui já tinha trepado pela nossa cama a pedir leite e a Laura, bem, essa já estava no leitinho há muito tempo. Acabámos por sair da cama cedo. Demasiado cedo. O mais incrível é que saímos de casa tarde. Demasiado tarde. Entre pequeno-almoço, vestir os miúdos e escolher um trapo que me apeteça vestir (o que não tem sido fácil), levar com alguns dramas à medida que o tempo avança e ainda não estamos fora de casa. É a Laura que já está doidinha por dormir a sesta da manhã (quem a pode condenar?) e o Gui impaciente por sair de casa e fazer qualquer coisa. Chegamos ao carro e eu já podia jurar que tinha ido ao ginásio fazer uma daquelas aulas de localizada logo pela manhã, toda eu cheia de calor e de nervos, a contar até 10 para não me irritar tão cedo. Nem 1 minuto depois temos a Laura a chorar. Sim, ela ainda detesta andar de carro. Não sei que tipo de mãe consegue aguentar ouvir assim um filho chorar sem entrar em paranóia, mas eu sou incapaz. O choro dela tem um impacto incrível, é esmagador para mim, especialmente porque não há nada que eu possa fazer. Gosto de chamar a esses momentos da minha vida “despiste de AVC”, sim, porque se não tenho um ataque cardíaco nessas situações, acredito que o meu coração continua de boa saúde. Fomos ver as obras na casa nova, quer dizer, o pai foi, porque eu fui lá só dar instruções “Cuidado com a tábua!! Já viste os pregos? Não espalhes as ferramentas! Não passes com a bicicleta em cima da porta!” Enfim, a culpa foi minha “oh, deixa-o levar a bicicleta, assim sempre anda um bocadinho”, eu sei, sou masoquista e depois dá nisto. A Laura adora amamentar na casa em obras, nunca falha. Voltámos para casa, porque entretanto o tempo voa, almoço, mais caos, mais toneladas de louça e comida por todo o lado. Decidimos sair sem sesta, (santa inocência)! Mais umas quantas coisas para tratar que não podiam ser novamente adiadas, coisas que crianças de 8 meses e 3 anos não apreciam. Muito resumidinho, estivemos a ver torradeiras e liquidificadoras à vez, enquanto um de nós ficava a vigiar o Gui agarrado a uma consola de jogos da loja, “vê a terceira a contar da esquerda”, “já vi, mas gosto mais da sétima, e da preta ao lado da vermelha”. Estivemos nisto 1 hora, num vai e vem romântico e sincronizado, que eu gosto de pensar que só pode acontecer connosco. Viemos para casa e valeram-nos as brincadeiras com os tios e uma noite de pizzas. Muito mais tarde do que desejaríamos (calma, eram umas 22h30) estávamos no sofá os dois, a dormir, claro! A noite nem vou contar, mas aí também não há novidades de fim-de-semana e a manhã começa cedo, como se quer a um domingo. Vamos andar de bicicleta naquele parque fantástico em Estarreja. O plano parecia perfeito. Depois de mais um choro inconsolável que acaba logo com a vontade de sair, um trânsito infernal que não estava nos planos e a realidade que não contávamos de um parque cheio, com escorregas e pessoas e muitas e muitas pessoas, o plano foi por água abaixo e deu lugar a arrependimento. Estivemos por lá, o Gui andou de bicicleta, a Laura bateu palmas e dançou, mamou e adormeceu. Foi bom. Estava calor. Foi cansativo. Mais uma viagem. Almoço. Antes seria uma salada rápida, com eles nada é rápido. Ainda aproveitámos para comprar alguma roupa para eles em saldos. Depois fomos ao parque, vimos a ria, o Gui andou de bicicleta, a Laura riu-se tanto. Depois é preciso cozinhar, adiantar refeições para a semana. A Laura não pára de chorar, quer colo, sempre. Não consigo fazer nada. Vejo o pai fazer tudo sozinho e irrito-me, porque só estou a amamentar e a consolá-la, mas não consigo fazer nada do que quero. Jantar, mais louça, mais comida no chão, no cabelo, até nos ouvidos, banhos aos dois, adormecer os dois, hoje não querem dormir, tiraram o dia. Quando já dormem, espera-me a roupa para passar. Espera ao pai a cozinha por arrumar. Chegou a meia noite e ainda não vi o fim ao cesto da roupa.
Estamos cansados. Vamos dormir. Cansados do fim-de-semana. Amanhã será um novo dia, vamos ter saudades dos dias assim e desejar que a semana passe rápido. A maternidade é mesmo assim, nós criamos expectativas e ficamos irritados. Mas a realidade é outra, as crianças não esperam nada e são felizes com pouco.
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