Nunca tive o sonho de ficar em casa com os meus filhos a tempo inteiro. Podia estar a dizer-vos que sempre me imaginei a ser quem sou hoje e que sempre me vi a deixar o meu trabalho para estar mais tempo em casa com eles, mas estaria a enganar-vos. Pelo contrário, sempre disse que jamais o faria, que não seria capaz de estar tanto tempo em casa e, na verdade, quando fui mãe pela primeira vez e vi a licença de maternidade, senti vontade de regressar ao trabalho, de estar com adultos, de poder ter algum tempo apenas só meu.
Os meses foram passando e eu fui crescendo enquanto mãe. Cada vez me custava mais quando tinha que o deixar de manhã! Queria estar ao lado dele mais tempo, poder vê-lo crescer, aprender. Adorava quando me contavam o que ele tinha feito durante o dia, mas sentia uma ponta de ciúmes de não ter sido eu a assistir a tudo isso.
E houve mais, o Gui esteve sempre doente, faltou praticamente todos os meses durante o primeiro ano de creche. Eu, o meu marido, a minha mãe, a minha irmã, todos faltámos ao trabalho para podermos estar com ele em casa. Quem já passou por isto sabe o quanto custa, primeiro porque os vemos doentes e isso mata-nos por dentro, depois porque faltar constantemente ao trabalho é terrível, acabamos por nos sentir péssimas, eu já nem sabia bem como avisar que ia faltar de novo.
Começámos a falar cá em casa que, se tivéssemos outro filho, eu gostaria de estar mais tempo de licença. Talvez 1 ano, talvez mais. Decidimos tentar, assim que soubemos que a Laura vinha a caminho. No início eu tinha receio de como eu iria reagir. Ficaria demasiado exausta? Será que ficaria deprimida, como em alguns casos que conhecia? Poderia ser demasiada pressão? Sentiria muita falta de ter um emprego fora de casa? E como seria com ela, será que ela se aborrecia? Como a ia distrair ao longo do dia?
Decidimos deixar o tempo trazer essas respostas, primeiro aproveitei bem os primeiros meses, sem grande pressão e ainda hoje sinto tantas saudades desses nossos dias passados ao colo, quando aproveitei para ver séries, ler, descansar e recuperar bem, coisa que não fiz do Gui em que achei que tinha que ser a super mulher que vendem por aí e seguir com a minha vida.
Depois a Laura foi ficando mais exigente, a precisar de mais do que colo. Foi quando começaram a surgir as atividades que faço com ela. Devagarinho, a testar as minhas capacidades e a o interesse dela, porque é ela que guia tudo o que fazemos. Eu nunca tive jeito para trabalhos manuais e sempre acreditei ser uma pessoa com pouca criatividade. Por isso, fui dando pequenos passos, testando o que resultava melhor.
Durante estes 2 anos, apercebi-me de vários tipos de mães que estão em casa. Há mães que ficam desesperadas por não conseguirem fazer nada, porque os seus filhos não querem estar sozinhos e não se distraem com brinquedos. As que querem fazer coisas com os filhos, mas não sabem por onde começar, e acabam por estar sempre a fazer as mesmas actividades até que eles se fartam. E as que acabam por descobrir que estes anos podem ser maravilhosos, se os soubermos viver plenamente.
Eu não fiquei em casa para cuidar da vida doméstica, sei que isto vai chocar algumas pessoas, ou que até possa levar alguém a pensar que então tenho a vida fácil. Não tenho. E não imaginam mesmo do que abdicámos para eu estar em casa. Mas para isso acontecer, eu tive que definir as prioridades e cuidar da casa nunca foi uma delas, porque para isso, eu preferia mesmo estar a trabalhar. Claro que estando mais em casa, acabo por ter mais oportunidade de ser eu a arrumar, passar a ferro, ou adiantar refeições. Mas, na verdade, continuamos a dividir as tarefas igual, o meu marido trabalha fora de casa e eu tenho um “trabalho” em casa que é cuidar da Laura, do Gui, acompanhar o que eles fazem, preparar e fazer as atividades com ela, proporcionar-lhe experiências e estímulos novos, e também tenho o blog e outros projetos que vão conhecer em breve. Depois disso, juntos, cuidamos da casa no final do dia, ou durante o fim-de-semana, como sempre fizemos.
Isto é importante para que compreendam as nossas rotinas. Um dos posts que mais me pedem é sobre o nosso dia, como nos organizamos, como gerimos o tempo, o que fazemos. Tenho muita dificuldade em transmitir-vos isso, porque todos os dias são novos e diferentes e porque percebo que talvez as minha forma de gerir, não vá ao encontro do que procuram, porque o meu tempo centra-se na Laura e no que vou fazer com ela. Eu não espero que ela fique entretida sozinha, porque eu estou lá com ela. Claro que depois existem momentos em que lhe dou o iPad, ou preparo uma atividade para que ela fique mais sossegada enquanto eu faço o lanche, ou preparo o jantar.
A nossa semana inclui algumas atividades fixas, e que me ajudam também a mim, porque saímos as duas de casa, eu converso com outras mães, ela brinca e convive com crianças e outros adultos, acabamos as duas por nos divertirmos mais, enquanto ela aprende e se desenvolve. Eu acho que esta socialização com outras crianças é importante, não é de todo fundamental nos primeiros anos de vida, mas é bom quando eles podem conviver e brincar, acho que todas as crianças gostam. Ela adora e pede muito para ir brincar com os meninos, agora já sabe o nome deles, já fala sobre eles em casa e eu noto que isso é bom para ela.
Terça feira de manhã: Natação
Todas as terças de manhã vamos juntas à piscina com algumas mães do Playgroup. Optámos por não ter professor, mas sim irmos apenas nós com eles, porque nesta fase consideramos que o mais importante é que se adaptem ao meio aquático, que relaxem e se sintam bem. Tem sido tão, mas tão bom! Ela adora, fica super feliz quando lhe digo que é dia de piscina e, ainda por cima, noto que cada vez está mais desenrascada na água, adora nadar,saltar e mergulhar. Tem sido muito positivo.
Quinta feira manhã: Aula de Música
A Laura adora música, desde sempre. Há muito que gostava que ela frequentasse aulas, mas a maioria delas são durante o fim-de-semana. No nosso caso, ao contrário da maior parte das famílias, dava-nos mais jeito ser durante a semana! Isto porque durante o fim-de-semana gosto de estar em família, gosto que o Gui e a Laura estejam juntos e as aulas nunca são compatíveis para eles os dois (pela idade). Além disso, gosto de ocupar a nossa semana, no fim-de-semana temos sempre outras atividades e passeios. Agora todas as semanas vamos a uma aula com os amigos do Playgroup, eu acho que tem sido bom para ela, até porque música é a área que eu trabalho menos com ela em casa.
Sexta-feira manhã: Playgroup
Já não é novidade que frequentamos o Playgroup todas as sextas, na Biblioteca Municipal de Aveiro. A entrada é livre e gratuita. Fazemos imensas atividades diferentes, cada semana trabalhamos um novo tema sugerido por um membro do Playgroup. Além disso, organizamos também visitas adequadas aos interesses deles, ou ao tema que estamos a trabalhar. O Playgroup tem sido uma ajuda enorme para mim, já faz parte da nossa rotina. É uma forma tão boa de combater o isolamento das mães, ao mesmo tempo que garantimos que as crianças convivem e brincam juntas.
Grupo de Facebook Playgroup Aveiro
Depois o resto da semana é gerido conforme o tempo disponível. Preparo várias atividades com antecedência, vou mudando os brinquedos disponíveis, e adapto as atividades a diferentes temas. Tenho partilhado essa rotatividade no Instagram. Depois surgem todas as outras atividades espontâneas, algo que eu vejo que lhes despertou a atenção, ou algum interesse novo que vai surgindo. A mim ajuda-me ter um plano, para me poder organizar, na hora de brincar não gosto de estar a preparar a atividade, ou a fazê-la esperar. Gosto de ter tudo no quarto de brincar e depois ela guia a brincadeira, escolhe o que quer fazer e vai-me dando indicações. Não sou muito rígida nestes planos, tento pensar em várias atividades que estimulem diferentes capacidades, algo mais sensorial, mais artístico, atividades que trabalhem a motricidade fina, a linguagem, brincadeiras mais livres e que estimulem a imaginação, mas tudo flui muito naturalmente.
Também tentamos sair de casa todos os dias, só mesmo se estiver um dilúvio. Noto que lhe faz bem, nem que seja brincar no terraço da nossa casa. Sempre que possível, vamos a parques, porque ela adora descer escorregas e porque é uma forma de gastar alguma energia. E vou também estando atenta ao que se passa na cidade, às vezes surgem atividades tão giras, ou lugares para visitarmos.
Por fim, também a envolvo nas tarefas de casa, fazemos compras, aspiramos, arrumamos os quartos de manhã, a loiça na máquina, limpamos vidros, despejamos o lixo… Ela gosta tanto, e já sabe algumas das rotinas. É muito bom quando eles se sentem úteis, eles normalmente adoram fazer essas pequenas tarefas nestas idades e para nós também é uma excelente forma de conseguirmos fazer qualquer coisa em casa, ao mesmo tempo que estamos com eles.
As nossas manhãs, excepto nos 3 dias que vos disse, são quase sempre iguais, pequeno-almoço, vestir, levar o mano à escola, voltar a casa, arrumar os quartos, brincar. Aproveito as manhãs para as atividades mais exigentes, porque o foco de atenção dela é muito maior. Depois almoço, arrumar cozinha, quando está sol, brincar na rua, dormir a sesta. Quando acorda, se for cedo ainda brincamos, se não, lanchamos logo. Depois é quase sempre hora de ir buscar o mano à escola. Nos dias bons vamos ao parque, ou então vimos para casa brincar todos juntos. Quando o pai chega, um de nós prepara o jantar, eles ou brincam, ou é a hora de televisão. Jantar, banho e caminha.
Toda esta rotina acaba por ser diferente a cada dia. Este post foi dos mais longos que escrevi até hoje, por isso, não sei se alguém leu até ao final!! Também não sei se era isto que pretendiam e se responde à maioria das dúvidas que me colocam, mas façam mais perguntas!
2018-11-22 at 22:17
Eu li até ao fim.
Interessa-me. Identifico-me.
Duas coisas, “combater o isolamento das mães”, fiquei com isto na cabeça. É um facto. Existe e não sabia que tinha nome. Isolamento. Vive para os seus filhos. Vivemos! Mas é tão bom e gratificante.
A outra coisa, às vezes perguntam “e o que fazes o tempo todo que está na escola?
Está respondido.
Nem é tanto tempo, porque os levamos no último minuto aceite de hora de entrada e vamos buscá-los ao primeiro minuto livre das tarefas escolares.
Isolamento das mães, era um tema interessante de desenvolver. Até porque costuma fazer perguntas aos seus seguidores e fazer uma análise estatística das respostas, em resumo. E é bem interessante saber feedback de tantas outras com o mesmo padrão familiar.
Obrigada pela partilha.
2018-12-05 at 12:40
Olá
Adoro a sua maneira de estar na vida e adoro aquilo que faz com os seus filhos, é muito inspirador. Principalmente para mim
que não tenho jeito nenhum para trabalhos manuais.
A minha questão e onde tenho mais dificuldade é saber onde pesquisar para saber quais são os livros e atividades mais adequadas à idade da criança.
Beijinhos de uma fã
2018-12-05 at 23:46
Eu li até ao fim .
E penso que quem dera a muita gente poder ficar em casa o máximo de tempo. Infelizmente são decisões que não podem ser tomadas quando são impossíveis de ser realizadas . Realmente custa deixar os meninos na escola, e so de os ver crescer ao “fim de semana” , ou ao “fim da tarde “ já cansados da escola . Custa, mas é facto que na falta de melhor , a escola é uma grande ajuda . A licença de maternidade ainda continua os 4 meses e salvo alguns casos que conseguem ficar os 5 a receber 80% de um ordenado . Se for baixo e o rendimento familiar não conseguir a quantia para a sobrevivência do dia a dia , tem forçosamente que optar pelos 4 .
Não há nada que pague o amor, e nada que pague o tempo que passa mas infelizmente é a nossa realidade .