Amamentei o Gui durante 6 meses. Sabia que era o melhor que lhe podia dar, por isso, fiz esse esforço. Foi quase sempre um esforço, sim. Não conhecia ninguém que amamentasse, não me sentia bem a amamentar em frente aos meus amigos (nenhum deles tinha filhos ainda), sentia-me estranha quando ele só me procurava para mamar. Lembro-me de ter inveja do pai, porque podia estar com ele, sem que ele pedisse imediatamente para mamar.
Durante muito tempo senti-me sozinha. Não conseguia perceber bem o que sentia e não convivia com mais mães, para poder partilhar e compreender o que se passava.
Assim que surgiram as primeiras dificuldades, todos me disseram para desistir, já tinha feito tanto. Na altura foi um alívio, confesso. Só senti culpa uns meses mais tarde, quando me encontrei como mãe, quando me deixei ser por completo, quando deixei de achar que devia ouvir os outros. Eu já fui das mães que disse que não amamentaria mais do que uns meses. E lembro-me de estar grávida, ter visto uma mãe amamentar num local público, e pensar que jamais faria isso. Pensamos e sentimos muitas coisas antes de sermos mães, e até mesmo depois. Estamos sempre a mudar, a evoluir, a percorrer um caminho, e para mim só faz sentido que assim seja.
A história da amamentação do Gui é tão importante para mim. Com ele aprendi que não é preciso amamentar para se criar um vínculo sem fim, e nunca me esqueço disso. Que amamentar não nos define, nem ao amor que sentimos. Foi também ele que me ensinou que passamos a encarar tudo com outros olhos e com ele nasceu a minha vontade incansável de querer sempre melhorar. Talvez seja isso que me faz encarar com tanta naturalidade a amamentação da Laura. Saber que tudo passa tão rápido, conhecer-me melhor do que nunca, perceber que ser mãe nos faz viajar ao nosso interior e descobrir que o instinto, que o nosso lado mais animal, prevalece sempre e é ele que nos ajuda a proteger as nossas crias.
Na verdade, eu sei que só cheguei até aqui por causa dele, e vou querer que ele um dia saiba disso.
Obrigada, filho.
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