Hoje quero pedir-vos desculpa, filhos. Desculpem quando grito, mesmo sendo a última coisa que eu quero fazer. A culpa não é vossa, é sempre minha. Eu sou a adulta, e se eu ainda não me domino na totalidade, como poderia sequer esperar que vocês fossem capazes de o fazer? Todos os dias faço mais uma parte do caminho que escolhi enquanto mãe, às vezes fico orgulhosa de tudo o que alcancei, de como sei ser mais calma e razoável, de como ter todo o tempo do mundo para vocês me trouxe mais paciência, de como consigo gerir tudo sem gritos e dramas. Mas ainda assim, mesmo sabendo que não resolve, mesmo não querendo, mesmo lutando contra mim própria, eu grito. O que acaba por ser mais irónico, é que quando eu grito, é como se esperasse que fossem vocês a saber parar. Não eu.
Por isso, desculpem. Vocês são incríveis o tempo inteiro. São crianças alegres, cheias de curiosidade, inteligentes, extremamente perspicazes, são persistentes, têm uma energia sem fim, uma vontade de ir mais além que eu adoraria que nunca perdessem. Vocês estão só a ser incríveis o tempo todo, a quererem conhecer mais do mundo, a testarem os limites, a excederem-se.
E eu, eu estou só a ser adulta, e às vezes, mesmo sendo o que eu não queria, estou só a ser chata. A fazer uma birra. A ir contra o que vocês precisam. Mesmo sabendo que há mais caminhos, há dias em que eu escolho gritar. E se eu não sei parar, é absurdo achar que vocês, na vossa curta vida, já devia saber.
Vocês são incríveis, sempre. Eu nem por isso. Ainda assim vocês parecem amar-me sem fim, e eu não amo mais nada depois de vocês.
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