Hoje fazes 21 meses. Olho para ti, para dentro dos teus olhos azuis, parece-me impossível ter passado tanto tempo. Amo cada pedaço teu neste preciso instante, cada palavra, cada sorriso, cada lágrima, cada amostra do teu ser. Sei que um dia não ter irás recordar dos dias que estamos a viver, apesar de teres uma memória fantástica. Se eu pudesse escolher algo que te fosses lembrar mais tarde, eu escolhia isto.
Queria que te lembrasses que passamos grande parte do tempo ao teu lado a brincar. Nunca brinquei tanto em idade adulta. Eu e o teu pai passamos horas a brincar contigo, a dar largas à imaginação, a rir, a correr, a rebolar pelo chão, a desenhar, a brincar com plasticina ou a dançar. Com 21 meses, vejo-te sempre a correr por todo o lado, a subir para as mesas e cadeiras, a falar, a chamar-nos: “Oooohhh mamãaaaa”, “oooohhhh papáaaaaa”. Adoramos a tua pronúncia, a entoação que dás às palavras. Não dizes quase nunca a primeira letra das palavras no início das frases, trocas os “v” por “b” e dizes “pá boua” quando a sopa já não está quente. Gostava que te lembrasses das noites ao nosso lado, das mãos dadas, de quando já estamos de luzes apagadas e pensamos que estás a dormir há imenso tempo e tu dizes “tá escuio” (estás escuro) e nos partimos a rir, os três. Das manhãs em que acordas e o pai está a tomar banho, em que te aninhas a mim e dizes a sussurrar para eu chamar o papá para trazer o “eitinho” (leitinho). Gostava que pudesses recordar o quanto adoraste a primeira vez que andámos à “puba” (chuva), do teu riso enquanto as gotas te batiam na cara como se fosse a coisa mais espectacular do mundo. Queria que na tua mente ficasse para sempre marcado o dia em que reparaste bem na lua e ficaste fascinado, desde então todos os dias queres vê-la, olhas para o céu e perguntas “onde ta?” para depois gritares “ah ta aquiiii”. Gostava que pudesses ter memórias do cavalo vermelho, dos livros de autocolantes que colamos quase todos os dias, das construções que fazes com o pai e das gargalhadas que vocês dão. Gostava tanto que na tua mente ficassem para sempre os momentos em que jogamos às escondidas e o pai canta a marcha imperial de star wars enquanto corre atrás de ti, os ataques de cócegas, os banhos de espuma a três ou quando eu corro contigo ao colo em modo voo do super-homem. Queria que te lembrasses de nós assim, de nós no dia em que fizeste 21 meses, do dia que passámos, da nossa casa como ela está agora, onde vivemos os três momentos incrivelmente felizes e desafiantes. Gostava que pudesses reter as dezenas de beijos que te damos por dia, é viciante agarrar-te, cheirar-te a pele de bebé e sentir o teu cabelo e as tuas bochechas na minha pele. Gostava que guardasses a imagem dos peixes e tubarões que fomos visitar, e daquela “tatauga enoooome” (tartaruga enorme). Sei que não vais conseguir lembrar tudo isto, mas seria bom que a imagem de ti a jogar à bola com o teu pai e os gritos “goloooo na baiza” (golo na baliza) ficasse para sempre em ti. O colo, os voos pelo ar, as músicas que inventamos para te cantar, as corridas no jardim, as torradas com manteiga na pastelaria. Da forma como desces o escorrega sempre deitado de frente, dos beijos que aprendeste a dar, dos abraços apertados. Há uns dias começaste a perguntar “o qué ito?” (o que é isto?) e agora a tua curiosidade em relação a tudo não tem limites.
Não sei como será o próximo mês, ou os próximos 21 meses, nem o resto da nossa vida. Mas sei que hoje, com 21 meses, somos mesmo muito felizes. Temos dias complicados, dias em que estamos cansados ou fartos de qualquer coisa. Dias em que a luz faltou, está a chover muito, ou dias em que bato com o dedo mindinho nos pés da cama, e toda a gente sabe que isso dói para caraças. Mas apesar de todos esses “ses”, tu és incrivelmente divertido, sorridente, bem disposto. Neste momento pareces saudável e tudo parece estar bem. Vou guardar cada um destes momentos na minha mente, para um dia poder contar-te tudo isto e ajudar-te a formar memórias, memórias felizes.
“i bub iu”, dizes tu quando te deixo na creche.
and I love you too Baby Gui <3
2016-01-28 at 15:06
Gosto tanto da forma como escreves! O que me deixa mesmo feliz é saber que mesmo que eles não se lembrem (explicitamente) destas coisas eles ficam para sempre gravadas nas pessoas que se tornarão. Quantas mais memórias felizes tiverem sem se lembrarem mais capacidade terão de construir memórias felizes das que se lembrarão para sempre*
2016-01-28 at 15:12
Fizeste-me lembrar o Inside Out <3 <3! mas tens razão, deixa-me de coração cheio poder proporcionar-lhe estas lembranças felizes, sabendo que serão parte de quem ele será um dia, para sempre. Obrigada*
2016-01-29 at 14:10
Subscrevo a Beatriz, e identifico-me mesmo neste teu post! Love it! 🙂