Não sei exatamente quando, mas a determinada altura, deixei de ser a mãe que era. Somos sempre um bocadinho a mãe que nos ensinaram a ser. A mãe que nos dizem para ser. Seguimos todos os passos, a compra do enxoval, a escolha do pediatra, as indicações, os timings e tabelas sem fim. Lembro-me de achar que não conseguia ser mãe, era tão complicado. Cheguei a ir para um workshop com um caderno para tomar notas de como se vestia o bebé, a que temperatura deveria estar a água do banho, quanto devem aumentar de peso os bebés, quantas gramas de comida devem comer por refeição. Para não falar no nascimento. Tantos procedimentos, regras, listas, pessoas envolvidas. Os primeiros dias na vida de uma mãe que segue o que lhe dizem, conseguem ser assustadores, de tão complexos que são. Depois começam as metas, os objectivos, as regras. Temos que os educar, desde cedo. “Eles aprendem tudo, eles são espertos, eles sabem-na toda.” De repente, parece que o nosso bebé ainda nem fala, mas já tem mau feitio porque atira tudo ao chão e, quando se chateia, é capaz de nos mandar uma chapada.
Um dia cansei-me. Cansei-me de achar que era eu que estava a ser mole, que era eu que não sabia privá-lo do colo, que era eu que não sabia como passá-lo para o quarto dele, que não sabia como o fazer seguir o que é socialmente aceite. Um dia cansei-me de ser
essa mãe cheia de regras, gritos, histerismos, fitas métricas, balanças e idas ao centro de saúde. Cansei-me de ser a mãe que tinha que tratar o meu filho como nem sequer trato os melhores amigos. Não deixo as pessoas que amo sozinhas, se o que me faz feliz é estar junto dos meus filhos, qual a necessidade de os fazer sofrer passando-os para o quarto deles, qual a necessidade de os deixar a chorar só para que aprendam uma regra em vez de os guiar e estar presente, qual a necessidade de medir o que comem, o que fazem, o que dizem? Depois descobri que havia nomes para tudo o que eu já fazia. Descobri a disciplina positiva, o apego, o Baby Led Weaning, o cosleeping, o babywearing… tantos nomes bonitos e difíceis, mas que no fundo são apenas os termos que definem uma maternidade descomplicada. Ser mãe pode ser simples, basta que sigamos o nosso instinto. Basta olharmos verdadeiramente para os filhos que temos à frente. Quando nascem, precisam de nós sem medida, sem tabelas ou tempos. Eles não sabem as horas para mamar, porque eles só conhecem o tempo junto aos pais, eles não sabem como ficar num quarto sozinhos, porque eles só sabem dormir no nosso peito, eles não sabem porque não lhes pegamos para que não se habituem sempre ao colo, não sabem que queremos cozinhar para eles, não sabem que temos roupa por passar. Eles não sabem que quando lhes ralhamos, muitas vezes é por preocupação.
Por isso, porquê complicar?
Porque não podemos apenas ser mães? Podemos amá-los sem receio. Podemos escolher ter um parto feliz, já que é o dia em que vamos ver o nosso filho pela primeira vez e será para sempre o dia do seu nascimento. Podemos olhar para eles, em vez de olhar para o relógio. Podemos namorá-los sem fim nos primeiros meses, enquanto eles só querem estar deitados no nosso colo. Podemos encontrar soluções como o babywearing para que consigamos ter alguma liberdade de movimentos em casa, podemos comprar menos coisas para eles que por vezes nada importam, e escolher ter mais tempo para estar verdadeiramente com eles, podemos deixá-los comer sozinhos, respeitar o seu tempo, guiá-lo nas escolhas que fazem, deixá-los explorar, fazer uso da curiosidade e persistência imensas que os movem! Podemos ser mães que estão lá de verdade. Não precisamos estar constantemente com medo, constantemente a avaliar, constantemente a traçar planos. Porque a verdade é que tudo o que lhes dizemos conta um bocadinho para formar aquilo que eles serão um dia. Eles irão crescer rápido demais, porque não podemos simplesmente aproveitar?
Tem sido este o caminho que tenho percorrido. É tão mais simples ser assim. Se consigo sempre? Claro que não! Todos temos dias menos bons, mas ajuda imenso não ser a mãe que me tentaram ensinar a ser, ajuda ser a mãe que os meus filhos me ensinam todos os dias a ser. Uma mãe descomplicada.
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