Não deve existir tema com mais opiniões alheias. Talvez porque a maternidade acolhe tanta gente. Temos filhos. As nossas mães tiveram. As nossas avós também. E as avós delas. Achamos que sabemos algo sobre isso que merece ser partilhado. Nem sempre por compaixão ou empatia. Talvez, porque somos seres humanos e queremos impor a nossa posição. Ou porque sentimos culpa e queremos atenua-la justificando as nossas escolhas.
Ninguém se lembra das mães. Mesmo sendo mães, esquecemos rápido como tantas vezes nos sentimos e cometemos o mesmo erro com outras mães. Ninguém pensa no estado fragilizado. Na ansiedade. No turbilhão que vai dentro do coração de uma mãe. A vontade de ser a melhor mãe possível. O desejo de fazer o correcto, de fazer os nossos filhos felizes, de garantir que tudo está bem. As mães sofrem uma enorme luta interior. Algumas aguentam bem a pressão, outras acabam por sucumbir e outras vivem num sufoco maior do que seria suposto.
Nunca está tudo bem. Existem mil temas. Mas eu só vou falar daquele que mais nos toca. Quando os filhos não dormem.
Se o bebé não dorme, existem mil razões, sempre ligadas à mãe, claro. Se é uma mãe que não amamenta, então a culpa pode ser dos estímulos a mais, da ansiedade da mãe que passa para o filho, do banho que não está na hora certa, da fome, da comida a mais. Se dorme no mesmo quarto com o filho a culpa é disso. Se não dorme, também. Se usa chupeta é esse motivo. Se não usa, é a falta dela. Se a mãe amamenta, então a culpa é só disso mesmo. Vício da mama ou fome.
O sono acumula. A sanidade mental vai desaparecendo, dando lugar a uma ansiedade sem fim, construindo, pouco a pouco, uma mãe bomba-relógio. Não há uma única pessoa que não tenha um palpite para dar, mesmo não tendo filhos.
Se uma mãe trabalha e tem uma carreira, então a culpa é da creche. Das horas longe de casa. Da falta de carinho. É porque os deixam chorar, de certeza, e eles ficam nervosos. É porque deviam estar em casa. A maioria das mães já se sente mal por ter que deixar o seu filho tão cedo, muitas acabam por dizer que não, numa tentativa de apaziguar a culpa que sentimos sempre. Se a mãe fica em casa e deixa de trabalhar, então a culpa é do mimo a mais, da falta de convivência com outros bebés, é de estar mal habituado, é da falta de regras e de horários.
Mas, no fundo, ninguém está com aquela mae nessas noites sem fim. Ninguém diz a essa mãe que ela está a dar o seu melhor. Que faz parte. Que existem bebés assim. Que um dia tudo passa. Ninguém procura encontrar soluções que ajudem a mãe a descansar mais, sem passar por retirar a mama, ou pedir para que não esteja ansiosa (pior pedido de sempre).
Mais empatia, por favor. As mães precisam, muitas vezes, de silêncio, de compreensão, de um abraço. Precisam de poder desabafar, atirar tudo ao ar, dizer umas quantas parvoíces sem sentido sobre os seus filhos, e que ninguém as julgue. Só isso.
Não é possível ser uma boa mãe, quando está sempre tudo errado.
2017-09-09 at 16:46
A minha bébé tem já 6 meses e meio. As noites de desespero parecem-me distantes. Tem de ser assim senão quem se atreveria a ter outro filho. Não me lembro muito bem como se passou, como se fosse um sonho. Mas uma coisa me lembro: sentir uma enorme solidão. Só uma mãe de recém nascido compreende outra, sabe o desespero por que passa. Nós já só temos uma memória distante que queremos que seja boa. Em relação ao sono tive mil dúvidas, mas eu confiei no meu instinto e não me fiquei pelos primeiros sites que li, com conselhos sobre treino do sono e cry it out. Para mim isso não estava certo. Eu pensava: mas então, na idade da pedra, antes de termos camas e quartos e empregos e creches como era? Elas não deixavam os bébés a chorar até adormecer na caverna à mercê de predadores. Por isso, estes métodos não podem estar certos. Continuei a pesquisar e finalmente encontrei 2 websites fantásticos: kellymom e bellybelly.au e mais recentemente este blog: sarahockwell-smith.com onde é explicado que o normal é acordarmos de noite, é biologia. Agora sei que não estou a fazer nada errado, que ela acorda de noite porque é o que os bébés fazem desde que há bébés.
2017-09-13 at 20:59
Parabens por descrever tao bem o que muitas maes sentem. O meu filhote vai fazer 6 anos, a primeira noite que dormiu sem interrupções foi aos 3anos e meio. Mais grave um bebe que chorava 80% do.dia/noite, 15% mama, 5% a dormir. Com trabalho por turnos, a verdadeira montanha russa. Hoje as coisas tao mais calmas, mas as mazelas permanecem, cansaço, a memoria, enfim…mas ver o meu filho crescer saudavelmente e feliz compensa.
Bjinhos para todas as maes