Ser mãe de dois foi algo que aconteceu com muito mais naturalidade do que eu esperava. Durante a gravidez não conseguia imaginar como seria ter dois filhos, amar dois seres por igual. Depois a Laura nasceu e foi tudo natural, rápido, o lugar dela foi ocupado nas nossas vidas e o amor afinal sempre se multiplica, em vez de se dividir.
Este é o lado bom. O coração a explodir de amor. Olhar para os dois e sentir que a nossa família cresceu e está ainda mais completa. Imaginá-los a brincar juntos, a dar as mãos, a conspirar contra nós. Sonhar com as férias a 4, com as asneiras que vão fazer juntos, com os Natais cada vez mais cheios. Tudo isto é maravilhoso.

Mas há um outro lado, um lado para o qual eu não estava preparada. Nunca tinha estado 2 noites sem o Gui até ao nascimento da Laura. Acordei na madrugada do dia 27, acordei o Gui com beijinhos, expliquei que estava com dores e que a mana ia nascer. Ele deu-me beijos na barriga e perguntou se eu estava melhor. O Gui fez o caminho até ao hospital connosco e a meio eu disse que ele podia dormir e ele respondeu “não, tenho medo”. Deixei o Gui com a minha irmã na entrada do hospital e voltei a vê-lo 6 horas depois, já com a Laura ao meu lado. Em 6 horas pareceu-me que tudo tinha mudado. Vi o Gui entrar pela porta, ansioso, acelerado, nervoso também. Eu mal conseguia pegar nele, tudo nele me pareceu enorme de repente. Vi-o gritar, rir, chorar também. Vi-o pegar na irmã, vi-o perplexo e confuso ao mesmo tempo. Vi-o feliz, mas agitado. Tive vontade de voltar atrás, de pegar nele novamente e ele ser pequenino outra vez. Ele foi embora e de repente já não me sentia tão feliz. Um pedaço do meu coração ficou apertado. Também eu senti medo.

Depois de 4 dias em casa, ainda não sentia que o Gui fosse o mesmo. Havia algo nele tão diferente. Precisava desesperadamente dele comigo, no meu colo, sozinho outra vez. A subida do leite, as dores que ainda sentia, impediam-me de estar com ele a 100%. Comecei a sentir-nos distantes, sabia que era tontice, nem 1 semana tinha passado e estávamos todos ainda a adaptar-nos. Era só eu e o Gui. Ele sempre no meu colo. O meu bebé. Sempre tive todo o tempo do mundo para ele. De repente, deixei de ter, não posso ter o tempo todo. De repente, tenho no colo também um recém-nascido que precisa de mim também, do meu cheiro, do meu conforto, precisa de mamar a todas as horas. De repente, sempre que Gui nos vê ela está a mamar, ou está a ser embalada, ou precisa de mim. E ele só tem 2 anos e meio. É um bebé maior, mas que precisa sempre do colo da mãe.

Eu percebi que o colo já nem sempre se multiplica, já tem que se dividir por vezes e a dor que senti foi tanta. Senti culpa, a tal culpa das mães que eu tento evitar, cá estava ela em pleno! Culpa por estar com ela ao colo, culpa quando não estava. Culpa por ter tido outro filho já, devia ter esperado. Senti a maior das culpas no dia em que estava a amamentar a Laura e o Gui veio a correr chamar-me e eu sem pensar a retirei rapidamente do colo e a deitei no berço ao lado. Não queria que ele no visse novamente ali, num dia em que ela mamou horas. E ela ficou ali sem saber bem o que aconteceu e eu senti-me a pior mãe.

Quando a Laura completou 1 semana o Gui já queria que voltasse a ser eu a adormece-lo, íamos reconciliar-nos. Estive com ele no quarto o tempo todo que ele quis, lemos vários livros, depois apaguei a luz, demos as mãos e eu conversei muito com ele, disse tudo o que sentia, tudo o que precisava tanto dizer e que eu acho que ele também precisava ouvir. Senti que ele ficou melhor, no dia seguinte estava mais calmo, mais sereno com tudo.

Tudo corre bem, dentro da normalidade. Mas nem sempre é fácil, ainda há momentos que desejo sermos só eu e ele. Momentos em que me custa estar a dizer à Laura que ela é o meu amor e o Gui estar por perto. Soa a traição.

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Não quero que cresças mais rápido Gui. Não gosto quando todos te dizem que agora és crescido, que és o mano grande e que tens que cuidar da mana. Não tens. Vocês são os meus bebés, sempre serão. Quem cuidará para sempre de vocês sou eu e o pai. Tu podes sempre ser bebé, tu podes sempre vir para o colo. Tu és o meu primeiro amor. Tu não te vais recordar nunca dos dias que vivemos só a 3 cá em casa. Quando tiveres memórias, a tua irmã estará la sempre e isso aquece-me o coração. Mas eu vou ter essas memórias, e foram 2 anos e meio perfeitos ao teu lado.