Eu idealizava como seria o teu nascimento. Queria que fosse um momento nosso. Queria que te sentisses bem ao ser colocada neste mundo. Queria que a tua entrada nas nossas vidas fosse um momento à tua altura.
O teu parto foi como todos deveriam ser. Respeitado. Feliz. Humano. Nosso.
Aprendi nestes meses que não importa apenas o tipo de parto que vamos ter. O mais importante é estarmos num local que nos transmita segurança, que não nos faça sentir medo, rodeadas de pessoas que gostam de nós e de pessoas que nos vão respeitar num dia tão nosso.
Não se trata de uma cirurgia marcada ou de um procedimento médico de alto risco. Até motivo clínico, devidamente justificado, um parto é um momento íntimo, uma ligação mãe-bebé, em que ambos lutam por cumprir com a sua parte.
O parto do Gui foi induzido. O Gui não escolheu o dia que queria nascer, o dia em que estava realmente pronto para vir ao mundo. O Gui foi arrancado de mim. Não fui maltratada em momento algum. Estávamos devidamente informados de todos os procedimentos, tudo foi feito com o nosso consentimento e fomos extremamente bem tratados. Por esse motivo, não foi um parto traumatizante ou triste. Foi apenas mais frio, fomos nós que ditámos as regras e não ouvimos o nosso bebé, não acreditei em mim e no poder do meu corpo.
Depois de entender isso, depois de perceber que tinha que haver mais do que aquilo, tudo mudou na nossa visão do parto. Fomos procurar mais informação, rodeamos-nos das pessoas certas e decidimos que numa próxima gravidez iríamos fazer tudo diferente, se o bebé assim deixasse.
A gravidez da Laura trouxe-nos essa oportunidade. Começamos logo a procurar a melhor forma de garantir que o nascimento dela seria diferente, seria realmente dela. Não é fácil conseguir um parto assim. A pressão no sentido contrário é muita, vinda dos próprios médicos ou de outros profissionais de saúde que se cruzam connosco na gravidez. Na visita ao hospital mais próximo, ouvimos aquilo que já conhecemos de tantas e tantas historias. Bloco de partos, presa a uma cama, monitorização contínua, cateter, sonda, posição para parto estabelecida, sem comida ou água durante a dilatação. Fora todos os restantes procedimentos médicos sobre os quais nem quiseram falar como a episiotomia ou partos instrumentados.
Depois de procurarmos mais informação, de termos contacto algumas pessoas, de termos a ajuda da Cláudia da Maternura durante o curso de preparação que fizemos, ouvimos falar do Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim, um hospital público, e marcámos uma visita, já com 38 semanas. Ficamos mesmo felizes, tudo lá nos agradou, a equipa que nos recebeu, a enfermeira parteira e doula que esteve 2 horas connosco a discutir o plano de partos e a ouvir todos os nossos desejos para aquele dia, as instalações, a possibilidade de o pai ficar durante a noite, tínhamos finalmente encontrado um local onde tinha a certeza que me iria sentir segura e respeitada e onde sei que apenas perante motivos clínicos verdadeiramente justificados é que alguns procedimentos seriam realizados, como devia ser em todo o lado.
Acordei no dia 27 às 5h50 já com contrações (que já vinha a sentir ao longo da noite, mas que ainda me permitiam estar a dormir). Começamos a marcar o tempo e de 15min rapidamente passaram para 10, acordamos o Gui, eu tomei um banho, tomei o pequeno-almoço e arrancamos para a Póvoa. Na viagem confesso que comecei a ficar um pouco aflita, apanhamos hora de ponta em cheio, e as contrações já estavam de 3 em 3min por volta das 9h da manhã.
Dei entrada no hospital já quase sem conseguir caminhar, quando ia ser observada rebentaram as águas, deixei que me fosse feito um toque para percebermos em que ponto estava e meio caminho estava feito. Instalaram-nos no quarto, enquanto eu estive na bola de pilates a enfermeira parteira que nos ia acompanhar esteve ao meu lado a ouvir a Laura durante 20min para podermos perceber como estava a comportar-se nas contrações, nunca estive ligada a nada nem impedida de qualquer movimento. Depois disso fomos deixados sozinhos eu e o pai, ainda comi gelatina, fizemos alguns exercícios de alívio de dor e por volta das 11h30 comecei a sentir dores mais fortes e contrações seguidas, foi quando vacilei pela primeira vez e comecei a pedir epidural, foi a parte mais dura de todo o trabalho de parto, é para este momento que temos que nos preparar, porque está quase, e o medo toma conta de nós, comecei a perder o foco porque me concentrei apenas na dor. A parteira voltou, foi simplesmente espectacular a apoiar-me, pediu-me se podia verificar a dilatação porque achava que estava completa e podíamos tomar uma decisão depois disso. Estava com 9 cm. Agora era comigo. Como eu insisti nas dores, ela chamou a anestesista, respeitou sempre a minha vontade, mesmo sabendo que naquela fase bastava eu preparar-me para o período expulsivo. Agora, olhando para trás, agradeço a enfermeira não ter colocado logo o caterer e termos feito aquela espera que me deixou preparada para a última hora antes de conhecer a minha filha.
Depois disso, sem epidural mas cheia de força, foi necessária apenas 1 hora até ter a Laura nos braços. Um parto maravilhoso, em que tudo o que se passou foi ditado por mim, escolhido por mim, ao nosso ritmo. A Laura nasceu, foi colocada no meu colo e dali só saiu 2 horas depois quando o pai a vestiu e quando deixou de querer mamar. Todo o plano de partos foi respeitado, felizmente a Laura colaborou e tudo correu super bem. O pai ficou connosco as duas noites, e fomos sempre tão bem tratados por todos, em todas as equipas que se cruzaram connosco.
Eu acredito do fundo do coração que nascer assim faz diferença. Não é apenas por ter sido o parto natural que eu tanto desejava, podia até ter acabado numa cesariana, mas ali sabia que seria sempre tratada desta forma, e nada é mais valioso que isto. Nunca vou esquecer o cheiro da Laura no meu peito, o calor que nos uniu naquele momento, as duas primeiras horas de vida dela foram instantes que ficaram cravados em nós. Nunca desistam de procurar o melhor para vocês, informem-se bem, tirem dúvidas, façam exigências, porque é o nosso dia, merecemos ser tratadas o melhor possível.
Obrigada Laura, por nos teres dado esta oportunidade de vivenciar este dia desta forma.
2016-11-07 at 14:09
Parabens mais uma vez! Adorei o relato <3 Também pedi epidural em desespero mas foi tarde d+. Pensando melhor sobre o assunto, ainda bem que não optei por ela. As dores são terriveis mas somos capazes de aguentar tudo.
Eu tambem nao tenho queixas em relação aos profissionais de saúde, o meu marido dormiu no mesmo quarto que nos e trataram-nos que nem reis.
Tudo de bom e bem vinda Laura <3
2016-11-07 at 14:50
Sem duvida que é um dos melhores para sermos pais, tive um triste momento em 2015 em agosto de 2016 tudo foi diferente não quis a epidural o meu único pedido foi o de não me colocarem no bloco 3 pois foi onde perdi a BEA e naquela hora precisava de concentração para o parto do Afonso a equipa foi a melhor que podia ter encontrado.
2017-01-27 at 15:46
Estou em casa, com a minha pequenina a dormir a sesta ao meu lado na cama. As contracções estão de 10 em 10 minutos desde ontem à noite e estamos a ponderar seguir para a Póvoa esta noite. 🙂 Vim aqui ler, mais uma vez, sobre o vosso parto para nos dar força. Obrigada!
2017-01-28 at 19:50
❤️❤️ depois queremos notícias! Tudo a correr bem, beijinho!
2017-02-24 at 12:16
Correu tudo ainda melhor do que esperávamos! Obrigada pelo teu relato… Graças a ele ( e às pessoas lindas da Maternura) encontrámos o local ideal para a Eleanora nascer, onde nos sentimos seguros, respeitamos e acarinhados. Muitos beijinhos para todos vocês
2017-03-01 at 11:13
Parabéns ❤️ são comentários destas que me fazem pensar que tudo isto vale a pena. Obrigada e as maiores felicidades ❤️❤️
2018-07-27 at 13:25
Olá, como é bom ler isso. Gostaria de saber como faço morando em outra zona para fazer o pré natal e parto lá. É quais custos você teve que pagar. Sou nova em Portugal e tenho muito interesse em entender como escolher o hospital que desejo ter meu próximo filho . Obrigada